Coleção Flores e Frutos do Cerrado - Celma Grace

 
A Cooperativa de Bordadeiras do Cerrado Goiano (Bordana) tem como estratégia divulgar e colaborar com a preservação do maior bioma brasileiro, o cerrado.
A partir da convivência, cooperação, linhas e tecidos pretendemos bordar a rica biodiversidade do cerrado que guarda peculiaridades que nenhum outro bioma brasileiro possui e que, infelizmente, é um dos ecossistemas mais ameaçados.

Através dos pontos tradicionais do tempo das nossas avós, os desenhos vão ganhando cor e forma. As belas flores e frutos do cerrado goiano, ganham novos contornos e se torna uma vibrante forma de expressão.
A partir do bordado pretendemos escrever uma mensagem de preservação e de importância do cerrado brasileiro.
Priorizamos reproduzir o bioma cerrado como forma  de contribuir com a preservação  de sua fauna, sua flora, rios, córregos, nascentes  e a vida do povo do cerrado,  através das suas raízes, folclores e cultura.

Celma Grace de Oliveira 
Fev. 2010

... na fina malha do tecido tempo - Edson Quaresma

A linha segue o caminho da agulha e aos poucos, bem devagarzinho, o desenho no pedaço de tecido vai se revelando em cores. Aqui acolá, pode ser que sim, pode ser que não, um outro enfeite qualquer: sementes, tiras metálicas, pedras preciosas, semi-preciosas, miçangas coloridas, lantejoulas. A mão vai escolhendo a trajetória da agulha e fazendo a sua arte.

Quem te inventou?

Fomos todos nós. Ainda me lembro, quando sentados em uma caverna antiga, sempre na beira do fogo, de dia e de noite. Nossas mãos, ainda tão pouco hábeis, furavam um pedaço de pele qualquer, às vezes com um fragmento de osso e em outras com a ponta fina de uma pedra. No mal feito buraquinho, costurávamos nossas roupas com finas tripas de animais ou tiras de fibras vegetais. De repente, neste processo de aprender fazendo ou fazer aprendendo, descobrimos que com o mesmo fio poderíamos contar histórias, ficar mais bonitos, demonstrar nossa força... registrar nossa existência. Fizemos isso há mais de 30 mil anos e neste entrecruzar de linhas já contamos muitas coisas sobre nossas vidas,    bordando na fina malha do tecido do tempo.


Nossa arte percorreu o mundo, ganhou padrões e se aperfeiçoou no oriente médio. Ornou com fios de ouro as vestes de reis, criou heróis e ídolos, deu face a deuses, retratou batalhas, recriou e enfeitou ambientes. Contaram feitos e nossas inúmeras novas histórias. Mas também, deu cores e formas a opressão de etnias, de nações, de pessoas e de gêneros. Assim, a mesma mão que bordava a beleza era, na maioria das vezes, a mesma mão despossuída de direitos, que se protegia da outra mão que espancava. Que se esforçava para ter um pouco de dignidade e, quem sabe, até de identidade.


Em uma época antiga, em tempos médios da nossa história, o ponto cruz da nossa arte era para as mulheres a única escola que lhes permitia aprender, entre outras coisas, as letras do alfabeto. E, ao final dos contornos e enchimento de borboletas, pássaros, flores, casas e paisagens, era ainda “permitido” aparecer a assinatura, a data e às vezes até a idade da bordadeira. No mundo desigual, que trata diferenças como ameaça, se deu cor à luta pela sobrevivência e se bordou o sentido a resistência.


Resistência à hegemonia e eficiência tecnológica dos tempos atuais. Com seus horários precisos, com seus padrões uniformes de produção em série, com seu barulho infernal de máquinas tentando sobrepor ao burburinho confidente da roda de bordadeiras e suas belas irregularidades da forma e do conceito estético.


Ponto e contraponto. A automação e a rotinização imposta pela linguagem binária de softwares codificadores e decodificados por hardwares, cada vez mais específicos e contundentes, em oposição aos sentimentos latentes da expressão e compreensão humana da vida e do mundo. A imposição e opressão das ditaduras modernas camufladas e da pretendida homonimização dos padrões sociais em nichos mercadológicos - comercialmente contemplados - se agiganta na lógica da empregabilidade e uso do poder criativo e tenta conter novas inspirações. Esse mesmo poder que se desfaz em frente a linhas e agulhas nas mãos daquelas que se habituaram a (re)construir, na simplicidade de pequenas e singelas imagens, a liberdade entre as angústias e os prazeres tão humanos.


Além de todo tempo e de toda história, são mãos que insistem e pretendem seguir bordando...


(Colaboração: Edson Quaresma – Fev./2010)

BREVE HISTÓRICO - BORDANA

COOPERATIVA DE BORDADEIRAS E PRODUÇÃO  ARTESANAL DO CERRADO GOIANO - BORDANA

Uma das primeiras iniciativas do Instituto Ana Carol, quando ainda funcionava como Núcleo vinculado ao Centro Popular da Mulher do Estado de Goiás (CPM/GO-UBM), foi aglutinar um grupo de mulheres do Conjunto Caiçara, em sua maioria, e outras de setores adjacentes, para iniciar um projeto baseado no cooperativismo, visando a inclusão social e economica.

"A inspiração surgiu nos momentos de dor pela perda da pequena Carol, inspirando Celma Grace a buscar conforto organizando mulheres para desenvolver atividades que despertava muito interesse na Carol. Sua principal diversão era desenhar modelos de roupas e seu maior desejo era tornar-se Design de Modas ao crescer, oportunidade que lhe foi ceifada por uma doença terrível, um caso raro de leucemia".
Assim surgiu a idéia do Projeto Núcleo Ana Carol, cuja elaboração contou com o apoio de vários amigos e amigas, e do Centro Popular da Mulher, com o envolvimento da Associação de Moradores do Conjunto Caiçara, presidida por Vanderlei Azevedo.
07 de março de 2009 - Lançamento do Núcleo Ana Carol



As primeiras reuniões com as futuras bordadeiras aconteceram em março de 2008 e envolveu pessoas que ainda não possuíam experiência com bordados. Algumas sequer haviam utilizado alguma vez uma agulha de bordado. A partir de treinamentos regulares através de reuniões que passaram a ocorrer todos os sábados, muitas delas contando com ajuda de professoras e artesãs, as habilidades foram aos poucos se manifestando, tornando-as atualmente hábeis bordadeiras.
Março de 2008 - Primeiras Reuniões - Márcia, Julinha (in memrian), Eunice, Gleidy e Domicia.


Março de 2008 - Primeiras Reuniões- Margarida, Lazinha, Geralda e Claudia.

Março de 2008 - Primeiras Reuniões-Sr. Ary, Narcisa e Celma


Março de 2008 - Primeiras Reuniões -Drª Claudia, Rosenelia e Sr. Ary

 
As orientações técnicas para a organização em cooperativa veio principalmente do apoio dado pela Universidade Federal de Goiás, através do programa de Incubadora de Empresas, e graças ao empenho pessoal, além do institucional, de Fernando Bartholo. Pacientemente, durante várias reuniões ele foi responsável por dar a formatação à cooperativa, sempre com a participação intensa das bordadeiras, então passando a serem também conhecidas como cooperadas.
Encontros semanais com Técnico Fernando Bartholo da Incubadora Social da UFG
Encontros semanais com Técnico Fernando Bartholo da Incubadora Social da UFG
Encontros semanais com Técnico Fernando Bartholo da Incubadora Social da UFG
Foram inúmeras reuniões, encontros, palestras, formação e capacitação, tanto, do bordado tradicional quanto da filosofia cooperativista, até que consolidou-se a idéia de formar uma cooperativa de bordadeiras e de produção artesanal (confecção, reciclagem, bijuterias, etc.). Coisas que a Carol se dedicava a fazer todos os dias com prazer.
Dentro de um processo solidário, democrático, transparente e de cooperação as decisões, responsabilidades e tarefas foram sendo tomadas e distribuídas. Nasceu então, a BORDANA, junção de BORD-ADO e ANA em homenagem a nossa pequena e inesquecível Ana Carol.

Parceiros (as) e colaboradores (as) dos primeiros momentos:

Adriana Duderstadt - Estudante do curso de moda da UFG
Associação dos Docentes da UFG – ADUFG
Anselmo Pessoa – Pró-Reitor de Extensão e Cultura da UFG
Antônio Oscar (Totinha) – Advogado
Antonio Pugás – fotografo
Associação Atlética Banco do Brasil – AABB
Associação de Moradores do Conjunto Caiçara
Associação Girau
Benaias Aires Filho - Sociólogo
Centro Popular da Mulher – UBM/GO
Claudia Leão Rassi – Doutora em Reumatologia
Cooperadas da BORDANA
Comurg – Parques e Jardins
Edson Quaresma – Designer Gráfico
Edwiges Carvalho – Advogada
Eunice Marinho – Assistente Social
Fábio Thaiss – Designer
Fábio Tokarski – Vereador - PCdoB
Fernando Bartholo – Incubadora Social da UFG
Gilvane Felipe - Historiador
Grupo Reviver – 3ª Idade
Horácio Santos - Advogado
Jane Belle – Pedagoga
Liliane Santos Melo – Arquiteta
M. Penha Passos – Ilustradora Botânica
Marconi Perillo - Senador - PSDB
Maristela Novaes – Professora da Faculdade de Moda da UFG
Narcisa Andréia – Zootecnista
Nivaldo Santos – Professor de Direito da UFG
ONG - Cultura, Cidade e Arte
Orlando Lisita – Prof. da UCG e Engenheiro Eletricista
Padre Bianor – Igreja N. Srª. do Sagrado Coração
Raquel Teixeira – Deputada Federal - PSDB
Reinaldo – Galpão Produções
Rosemeire Bernardino – Historiadora
SEBRAE/GO
Simone Ribeiro – Ilustradora Botânica
Supermercado Guiné
Universidade Federal de Goiás
Victor Emannuel – Designer
38º Conselho Comunitário de Segurança Pública